Um blog de sonhos...

Este é um espaço virtual para pessoas holísticas, visionárias, encantadas, curiosas e sonhadoras que gostam de ' viajar ' em imagem, texto, som, lembrança, fotografia, mensagens, reflexão, informação... Tudo que é lindo e gostoso de sentir! Dar... asas aos encantos interiores... vida aos sonhos... brilho às idéias... cor aos sentimentos... valor ao viver! Lugar de anjos, fadas, gnomos, espíritos... Muito: colorido, borboletas, flores e aromas!
BEM VINDO!!!
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(...) eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim q não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas q geralmente ficam caladas, porq nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porq tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porq elas não foram existidas completamente, entende, porq as vivemos apenas naquela dimensão em q é permitido viver, não, não é isso q eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é q a gente tem tanto medo de penetrar naquilo q não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse q existe em você, em mim, todos esses outros (...)

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mas eu sabia, é verdade que eu sabia, q havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados
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a nossa diferença fundamental é q você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo
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você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme q me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para q você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo q você precisava de muito espaço (...)

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Sabe, eu me perguntava até q ponto você era aquilo q eu via em você ou apenas aquilo q eu queria ver em você, eu queria saber até q ponto você não era apenas uma projeção daquilo q eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas q me fascinavam e q no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava q amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido (...)

(Caio Fernando Abreu em "Para uma Avenca Partindo", L&PM Editores, 2005)